domingo, 9 de março de 2014

SERGIO GUERRA



                                                                                             
Os povos da antiguidade lidavam melhor com a morte cuja ocorrência era impregnada de religiosidade. A volta à terra era uma cerimônia de celebração do retorno. Com o progredir da ciência, a partir da modernidade, o homem passou a celebrar unicamente a vida,  e todos os esforços são feitos para mantê-la a qualquer custo, muitas vezes sacrificando a própria liberdade de arbítrio diante da vida ou da morte. Ficamos impotentes para encarar a nossa finitude e por isto o espanto diante do inevitável. Max Weber afirmava que o homem de ciência progrediu, mas desencantou o mundo.Nada de sagrado, de espiritual ou de transcendente interessa .No entanto o   culto ao imediato , ao corpo, à velocidade, nos deixa mais transitórios, desde que por trás disto tudo está o tempo, e este é inegociável.O homem é o único ser vivo que tem consciência do próprio fim, mas paradoxalmente age como se o fato fosse irreal.Daí, porque  o  encantamento de uma  pessoa de nossa amizade deixa-nos sempre perplexos,  sem voz , tal o estranhamento que se instala no nosso mundo. É como uma casa que habitássemos e de repente uma parte dela desmoronasse diante de nossos olhos estupefatos. A cena do desmoronamento se instala e fica, enquanto durar os nossos dias. A imagem da casa me parece adequada porque é ela o nosso espaço mais próprio, suas paredes conhecem nossa voz, nossos  passos, nossa intimidade mais profunda. É a casa o nosso alterego. Os ruídos que a habitam são de vozes conhecidas; as cenas que presencia ali ficam com o seu testemunho mudo, mas indelével. A casa tem espírito. Pode-se ver através dela a nossa face e a dos circunstantes com quem nos relacionamos. É muito estranho seguir compreendendo o mundo se algumas pessoas a nossa volta não mais respondem ao nosso chamado. O silencio é infinito e a dor que ele provoca, indizível.
 A despedida de Sergio Guerra nos deixou assim. Falta a figura sisuda, de pronunciamentos muito seguros, alguém que imprimia confiança a todos aqui do nosso quinhão nordestino. O PSDB fica órfão. Sergio era um homem de especial habilidade política capaz de conciliar as divergências entre as alas do partido; sempre uma porto seguro aos grandes projetos de Pernambuco. Uma parte da “ casa” nordestina que desmorona. Resta aos que ficam, entre os escombros, honrar sua memória.

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