Do alto de seus noventa anos
de vida o poeta contempla o universo que tanto lhe é conhecido: o das
academias, das salas universitárias, das redações dos jornais. Ambientes que
representam o percurso de sua fecunda vida profissional e intelectual.
É com regozijo que
assistimos ás homenagens que vem sendo prestadas ao filho de Saboeira, no
Ceará, que adotou Recife também como seu berço e casa.
A Academia Pernambucana de Letras,
recentemente, realizou o seminário Cesar
Leal – 90- anos que reuniu os pares da APL, estudiosos de sua obra e amigos.
Sua filha Virginia o representou e trouxe para os presentes, as doces memórias
familiares e alguma poesia da farta fortuna intelectual do poeta.
Tivemos a oportunidade de
revisitar os múltiplos aspectos de suas atividades como jornalista, critico
literário e docente. Cesar leal iniciou sua vida no serviço publico trabalhando
para o Serviço especial de saúde pública (SESP) exercendo suas atividades em Manaus,
Belém e depois Belo Horizonte. Aí conviveu com intelectuais como Abgar Renault,
Fábio Lucas e outros. De volta ao Recife foi admitido no Diário de Pernambuco
então sob a direção do poeta Mauro Mota.
Em 1957 publica Invenções
da Noite Menor, seu primeiro livro
de poesia, seguido por dezenas de outros importantes títulos. Estudioso de Dante, admiração iniciada desde
a infância, por ser a Divina Comédia
um dos livros a seu alcance no casarão da fazenda Belmonte. Em 1965 publicou um
ensaio sobre o gênio italiano “Dante e os modernos” que lhe valeu condecoração
de “Cavalieri” da ordem do Mérito da República da Itália (1982).
Sua carreira literária tem
sido brilhante, reconhecida e profícua. Poeta, jornalista, critico de
literatura respeitado, recebeu o titulo de notório saber do Conselho Federal de
Educação (1980).Professor de Teoria da literatura da UFPE ,foi responsável pela
criação da Pós graduação em literatura e, portanto, pela formação de jovens mestres e doutores na última
metade do século XX. Foi editor da revista Estudos
Universitário e do Suplemento Literário
(DP) por três décadas. Estimulou poetas jovens publicando seus trabalhos (tive
a honra de ser um deles, com poemas e ensaios pjublicados nos idos da década de
80 no seu Panorama Literário).
Cesar Leal, como
João Cabral de Melo Neto, conseguiu conciliar a difícil convivência entre
poesia e crítica. Ambos tinham
consciência desta atitude critica presidindo o ato de escrever. É de José
Guilherme Merquior a afirmativa “César Leal é
até agora o poeta brasileiro mais preocupado com a teoria do poema” (1980).
No
poema “Carta aos rinocerontes” Cesar
declara: “se minha poesia te cansa/peço-te: come as saladas de Sousândrade;
bebe lentamente as gotas de orvalho que
fluem dos Caligramas/de Apollinaire... quanto a mim continuarei
sozinho/solitário como um estranho rio/de um território ainda não visitado
pelos geógrafos/abrindo sem descanso a minha estrada/certo de que alguém um
dia/ anjo ou demônio/caminhará por ela até a porta do meu nome”.