Os povos da antiguidade lidavam
melhor com a morte cuja ocorrência era impregnada de religiosidade. A volta à
terra era uma cerimônia de celebração do retorno. Com o progredir da ciência, a
partir da modernidade, o homem passou a celebrar unicamente a vida, e todos os esforços são feitos para mantê-la
a qualquer custo, muitas vezes sacrificando a própria liberdade de arbítrio diante
da vida ou da morte. Ficamos impotentes para encarar a nossa finitude e por
isto o espanto diante do inevitável. Max Weber afirmava que o homem de ciência progrediu,
mas desencantou o mundo.Nada de sagrado, de espiritual ou de transcendente interessa
.No entanto o culto ao imediato , ao corpo, à velocidade, nos
deixa mais transitórios, desde que por trás disto tudo está o tempo, e este é
inegociável.O homem é o único ser vivo que tem consciência do próprio fim, mas paradoxalmente
age como se o fato fosse irreal.Daí, porque
o encantamento de uma pessoa de nossa amizade deixa-nos sempre perplexos,
sem voz , tal o estranhamento que se
instala no nosso mundo. É como uma casa que habitássemos e de repente uma parte
dela desmoronasse diante de nossos olhos estupefatos. A cena do desmoronamento
se instala e fica, enquanto durar os nossos dias. A imagem da casa me parece
adequada porque é ela o nosso espaço mais próprio, suas paredes conhecem nossa voz,
nossos passos, nossa intimidade mais profunda.
É a casa o nosso alterego. Os ruídos que a habitam são de vozes conhecidas; as cenas
que presencia ali ficam com o seu testemunho mudo, mas indelével. A casa tem espírito.
Pode-se ver através dela a nossa face e a dos circunstantes com quem nos relacionamos.
É muito estranho seguir compreendendo o mundo se algumas pessoas a nossa volta
não mais respondem ao nosso chamado. O silencio é infinito e a dor que ele provoca,
indizível.
A despedida de Sergio Guerra nos deixou assim.
Falta a figura sisuda, de pronunciamentos muito seguros, alguém que imprimia confiança
a todos aqui do nosso quinhão nordestino. O PSDB fica órfão. Sergio era um
homem de especial habilidade política capaz de conciliar as divergências entre
as alas do partido; sempre uma porto seguro aos grandes projetos de Pernambuco.
Uma parte da “ casa” nordestina que desmorona. Resta aos que ficam, entre os escombros,
honrar sua memória.
Nenhum comentário:
Postar um comentário