Os caminhos percorridos pelos biógrafos são muito árduos. Em principio, têm que ir às fontes de informação ,
entrevistas com pessoas , fontes secundárias e documentais.Esta arqueologia é penosa. É fato
reconhecido, também, o preciosismo das atitudes
a ser adotado em relação às pessoas entrevistadas.
Precisa cautela, de modo a obter uma quantidade expressiva de informações
embora respeitando muito a personalidade do entrevistado . É um processo dinâmico que se vai fazendo ao fazer, e isto
requer habilidade e tolerância com os possíveis e inesperados arroubos de ambas
as partes.
A exigência de autorização previa pelo biografado, ou seus
representantes legais, cae no âmbito da
censura desde que, privilegia o direito
individual em detrimento do direto da coletividade
à informação Ora, as biografias são apanágio
de figuras publicas cujas vidas despertam o interesse coletivo. A propósito, a postura de Roberto Carlos revela, em ultimo caso,
zelo excessivo pelos royalties que podem render sua historia de vida e que ele não
quer compartilhar. O artista fazia parte do grupo Procure Saber, liderado por Paula Lavigne. Esta chegou a
declarar-se , não contra a biografia, mas contra sua comercialização não autorizada.
Juristas se contrapõem dizendo: “ nada contra a pessoa ganhar
dinheiro contando sua historia, se a
biografia é contada por ele próprio. Se contada por outro, o biografado passa a
ser personagem da história e, portanto, o direito autoral é do autor”. Considere-se ainda que no caso dos eminentes músicos
do Procure Saber, todos são
figuras publicas, formadores de valores
e que influenciaram gerações. Sua história é do interesse da
coletividade que tem seu direito acima do direito privado.
A própria ciência jurídica considera um dos mais difíceis limites
a ser definido, aquele entre o direito
privado e o publico. Sem compromisso com
a ciência jurídica dou aqui minha opinião sobre questões de intimidade dos biografados.
Tive uma recente experiência quando me aprofundei na historia de vida do poeta João Cabral de Melo Neto, para
publicá-la em livro. Ora, se você ouve dezenas de pessoas sobre a vida de outra, obviamente tem acesso a detalhes pessoais,
incomuns, excêntricos, de sua vida e personalidade, no âmbito dos afetos, comportamento, social e outros. Comigo não foi diferente; Tenho um
dossiê de conhecimento sobre João Cabral,
na vida privada, onde ele se permite viver como homem comum exercendo seu
legítimo direito de ser,
distante daquele idealizado por outrem. Um outro biografo , quando de sua
passagem por Recife, tornou publico fatos irrelevantes do cotidiano do poeta, nos seus nos últimos anos
de vida, que em nada contribuíram para a cultura coletiva e sim para
mudar a posição dos holofotes, do
biografado para o autor dos comentários .Isto pode não ferir direitos mas com certeza fere a ética.
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